segunda-feira, 31 de março de 2008

Negociações sobre mudanças climáticas

Começaram hoje em Bancoc as negociações para um acordo internacional sobre mudanças climáticas.Já existe um conjunto de diretrizes( road-map) ,que foram elaboradas em Bali em dezembro passado.Não há porém nenhuma garantia de que teremos uma conclusão até 2009,como previsto, para que seja possível obter as ratificações dos congressos necessárias à entrada em vigor em 2012 de um tratado sucessor de Kyoto.
Existem ,porém ,alguns avanços alentadores .Haverá um novo governo em Washington e todos os candidatos declaram-se comprometidos com a redução de emissões de CO2 , ao contrário de Bush.A Europa já acordou um regime bastante estrito de controles, ainda que tenha começado a tergiversar ,em tempos de menor crescimento econômico, no que diz respeito às limitações para suas grandes indústrias.A China,por sua vez, também tem demonstrado alguma flexibilidade.A Austrália ratificou Kyoto.E o secretário geral da ONU ,Ban-Ki Moon, tem se mostrado muito mais ativo no setor do que Koffi Anan.
A ciência das mudanças climáticas tem feito progressos significativos e suas projeções são cada vez mais preocupantes.Em diversos lugares do mundo já houve fenômenos que trouxeram à tona a gravidade dos impactos das variações do clima ,aumentando a sensibilidade da opinião pública internacional para o assunto.
Seria bom que o Brasil também evoluisse em sua posição, até agora de recusa de qualquer compromisso.

remessas de emigrantes

As remessas monetárias dos trabalhadores latino-americanos e caribenhos para seus países de origem chegaram a 66,5 bilhões de dólares em 2007,um cifra recorde segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento(BID).Isto equivale a mais do que o total do investimento direto estrangeiro e da ajuda externa somados , o que é um caso interessante de auto-ajuda.
Em 2007 porém houve uma redução importante nas remessas dos brasileiros que moram nos Estados Unidos em virtude da desaceleração da economia americana

Taxação dos lucros do petróleo

O governo venezuelano anunciou a imposição de uma nova taxa sobre os lucros das empresas que operam em seu território depois que o preço do petróleo ultrapassou 100 dólares.A medida assinala a terceira mudança significativa no regime fiscal do petróleo nos últimos anos.
Neste caso, a Venezuela segue a tendência internacional.Creio que o Brasil deveria pensar num caminho semelhante para a licitação de áreas abaixo da camada de sal no nosso “offshore”,na base da lógica de que sendo menor o risco maior deve ser a taxação.Esta alternativa é muito preferível à idéia de excluir 41 áreas dos futuros leilões e ,sobretudo , de modificar a Lei do Petróleo para recriar uma forma de monopólio estatal. Isto sim seria um retrocesso.

domingo, 30 de março de 2008

Sombras preocupantes sobre a Argentina

Com apenas três meses de governo,Cristina Fernandez de Kirchner já enfrenta os primeiros panelaços.Desde o desastre de 2001/2002 , que não havia manifestações em escala nacional dessa amplitude.
O início do movimento foi dado pelas quatro principais federações agrícolas em protesto contra a elevação do confisco para 44% das receitas da exportação de soja.Com bloqueios de estradas e paralisação da exportação, os produtores rurais já estão causando dificuldades de abastecimento e altas de preços.Por sua vez , o governo recusou-se a negociar e resolveu partir para o ataque acusando os ruralistas de “oligarcas e anti-nacionais” ,na velha tradição peronista.Com este endurecimento de posição, houve também uma nova escalada dos agricultores , com apoios bastante importantes na classe média urbana em todo o país.E o governo por sua vez apelou inclusive para os violentos “piqueteros” , a fim de atacar as manifestações.
Estes enfrentamentos e a subida da inflação – que os analistas já estimam em 27% - já atingem fortemente a imagem do Fernandez de Kirchner. Embora seja mais provável que as manifestações diminuam de intensidade, não há dúvida de que a credibilidade do governo está abalada, como indicam as pesquisas de opinião ,que já lhe atribuem apenas 47% de aprovação.E o inverno que se avizinha pode ser muito complicado pela carência energética do país.Vindo tão cedo no mandato da presidente Cristina, estas questões todas lançam uma sombra preocupante sobre a estabilidade da Argentina.

sábado, 29 de março de 2008

Alta dos alimentos

O preço do arroz subiu 50% desde janeiro desta ano, mais do que dobrando desde 2004 e acompanhando o movimento altista do trigo,milho e outros produtos alimentícios.Há sinais de que a especulação e a volatilidade comercial aumentam os movimentos dos preços.
É certo que os mais penalizados são os consumidores de mais baixa renda nos países em desenvolvimento.Além disso, são muito preocupantes as implicações destas altas para a segurança alimentar e a sua repercussão inflacionária mundial .
Nesse contexto, aumentam as pressões internacionais contra o uso de terras agrícolas para fins energéticos.No caso brasileiro, tais pressões são conjugadas a acusações de que a expansão da fronteira agrícola se faz com o desmatamento da Amazônia

Antártica sob ameaça

O Tratado da Antártica de 1979 é um dos melhores exemplos de boa governança internacional .O continente foi desmilitarizado,as reivindicações territoriais foram congeladas e restritas a sete países(Argentina,Austrália,Chile ,França,Noruega,Nova Zelândia e Reino Unido).Há também diversos países que se reservaram o direito de fazer futuras reivindicações territoriais (Russia e Estados Unidos) ou que apenas têm bases na Antártica (India,Brasil,China).Por outro lado, o continente foi reservado exclusivamente para a pesquisa científica.
Agora, porém , as circunstâncias estão mudando.Com o aquecimento global, há perspectivas de que a Antártica se torne menos inóspita.O turismo vem aumentando sensivelmente já chegando a 40 mil visitantes anuais.A pesca do krill vem se intensificando,geralmente de forma ilegal.E existe também a cobiça internacional sobre os potenciais recursos minerais e petrolíferos da região.É verdade que pelo Tratado de 1979 a exploração comercial é proibida mas , pela Convenção da ONU sobre Direito do Mar(UNCLOS) , os países signatários podem reivindicar direitos econômicos ampliados até maio de 2009 , o que poderia abranger a Antártica pois há hoje tecnologia para exploração de petróleo em condições anteriormente impensáveis.
Assim, todas estas pressões podem alterar o futuro do continente gelado.

Intervenção inaceitável

É inacreditável que o coronel Chavez venha ao Brasil , firme convênio de “ assistência social” com o MST, sob o olhar satisfeito de João Stédile, e ninguém diga nada .A intromissão nos assuntos internos dos vizinhos vai sendo cada vez mais praticada pela Venezuela “bolivariana”.
Imagine se o governo brasileiro firmasse um acordo para apoiar financeiramente uma organização estudantil de oposição a Chavez!

sexta-feira, 28 de março de 2008

Rumo à democracia,em marcha lenta

Ao assumir o poder, Raul Castro prometeu algumas aberturas para os cubanos em poucas semanas.Está cumprindo.Já liberou a compra de celulares,dvds e micro-ondas.Promete ar condicionado para 2009 e torradeiras para 2010.Agora surpreendeu a todos liberando a compra de computadores e portanto o acesso à internet, até então banido.É verdade que,com os salários miseráveis que recebem ,poucos cubanos vão poder se dar a estes luxos.É incrível que ,em 2008, ainda haja um país que impede seus cidadãos de comprar torradeiras de pão.
Mas , de todo modo nesse ritmo, dentro de algumas décadas, Cuba vai acabar caindo na mais completa democracia. Fidel deve estar estranhando.

domingo, 23 de março de 2008

O dilema da China

A forte repressão que a China exerce atualmente no Tibet tem uma razão básica:
evitar que os tibetanos utilizem a atenção internacional à sua situação, potencializada pelos Jogos Olímpicos de Pequim, para continuar a agitação anti-chinesa.Isto pode levar a uma ampliação das pressões contra a China por outros grupos igualmente reprimidos ,como a seita Falun Gong, que o governo chinês teme especialmente.
O rebelião dos monjes tibetanos está tendo um grande efeito moral no Ocidente.Com isto, o governo da China enfrenta um dilema enorme : como circunscrever o episódio sem comprometer um grande êxito na realização dos Jogos Olímpicos, mas também sem demonstrar fraqueza ensejando novos desafios à sua autoridade.

sábado, 22 de março de 2008

Taiwan mais perto da China

Afinal venceu o candidato oposicionista na eleição presidencial de Taiwan.Sua plataforma de aproximação com a República Popular da China falou mais alto do que os temores que a repressão no Tibet tenha suscitado.A atração das oportunidades de negócio é imensa pois os chineses de Taiwan já têm investimentos significativos na China e podem multiplicar o comércio com uma postura mais positiva e relação a Pequim.
Com a normalização progressiva das relações , vai-se atenuando também o mais grave foco de instabilidade da Ásia.É mais um fator positivo para a região.

sexta-feira, 21 de março de 2008

O monopólio estatal do petróleo no México

O México acaba de comemorar 70 anos do ato histórico do presidente Lázaro Cárdenas nacionalizando o petróleo.Com as reservas em forte queda pelo sexto ano consecutivo, o presidente Felipe Calderón advogou maior envolvimento do setor privado para aumentar a produção da Pemex.Seu pronunciamento logo despertou reações , especialmente por parte de López Obrador o candidato derrotado da esquerda nas últimas eleições.
A questão provoca um debate acalorado no México atualmente.A Pemex é responsável por 40% do orçamento mexicano e ,como a PDVSA venezuelana, precisa suportar o ônus de gastos políticos que diminuem sua capacidade de investir em sua própria indústria.O presidente Calderon apresentou um programa para melhorar a eficência da empresa mas admitiu que, não tendo tecnologia para explorar petróleo a grandes profundidades , ela precisa do apoio de companhias especializadas.Porém , para muitos mexicanos, o monopólio estatal é sagrado.

Chavez em queda

O apoio do governo caiu para seu mais baixo nível em 5 anos.Duas pesquisas importantes de opinião revelam que o apoio ao coronel caiu para apenas 34 e 37% respectivamente. Uma maioria de 57% na pesquisa Datos achou que o país está na direção errada, enquanto 73% consideraram que sua situação econômica piorou no último ano.É curioso ,porém, que a oposição só obteve apoio de 27% de acordo com a Datos e 41% com a pesquisa Keller.
A Venezuela assiste assim a uma deterioração do quadro econômico com falta de alimentos e aumento da criminalidade ,sem que haja uma clara alternativa de rumo político.

Aproximação China-Taiwan

Realizam-se neste domingo as eleições presidenciais em Taiwan.Os dois principais candidatos defendem uma posição mais pragmática em relação à China. Os radicais ,que advogam uma completo declaração de independência , parecem estar em baixa.
A melhora das relações entre China e Taiwan poderia levar a maior cooperação política e a um redução das tensões na área, já que uma possível independência da ilha é vista pelo governo chinês como intolerável e tem provocado escaladas militares, sempre que é suscitada. Por outro lado, tal aproximação pode também levar a uma expansão das relações comerciais e econômicas –fato que atrái muito o empresariado e os eleitores de Taiwan.
Mas , a repressão dos manifestantes anti-chineses no Tibet pode afetar o panorama eleitoral em Taiwan ,enfraquecendo o candidato mais favorável a uma aproximação com a China.As consequências da posição dura no Tibet vão assim sendo multiplicadas e criam dificuldades sérias para a política externa chinesa.

quarta-feira, 19 de março de 2008

A repressão no Tibet representa uma escalada

Com a aproximação das Olimpíadas de Pequim- em que a China pretende dar uma demonstração de modernidade,pujança e equilíbrio- houve algumas retificações na política externa chinesa destinada a atenuar a imagem de apoio oportunista a diversos regimes marginalizados pelos países ocidentais como Myanmar, Sudão e Coréia do Norte. Nos três casos,a influência chinesa fez-se sentir para forçar atitudes mais abertas e receptivas ao diálogo por parte destas países.
Subsistem ,porém, graves problemas na China que suscitam críticas muitos fortes por parte de organizações não-governamentais ou mesmo de alguns governos. Para os dirigentes chineses ,os casos mais sensíveis são Taiwan, a seita Falun Gong e o Tibet.Há muitas outras questões- como a da liberdade na internet, pena de morte amplamente utilizada, condições carcerárias , direitos de minorias etc... Os Jogos Olímpicos serão uma ocasião para testar o governo de Pequim e mesmo para provocá-lo. Os muitos opositores da China vão agora escalando seus desafios. O caso do Tibet é certamente parte deste contexto.Sua visibilidade é realçada pela respeitada figura do Dalai Lama , o chefe espiritual dos tibetanos, e pelos monges com suas vestes açafrão.A China não hesitou em reprimir com força as manifestações em Lhassa. Será esta a resposta que Hu Jintao e seus colegas de partido e governo pretendem dar às contestações mais graves ? No caso de Taiwan e da seita Falun Gong certamente a reação será semelhante à do caso tibetano.
Em que medida estes conflitos afetarão o desenrolar dos Jogos Olímpicos de Pequim? É impossível fazer uma previsão no momento em que o endurecimento no Tibet marca um agravamento das tensões.

terça-feira, 18 de março de 2008

A OEA consegue apaziguar o conflito

Ontem ,após quatorze horas de discussão, a OEA aprovou uma resolução que deve encerrar ,por ora, o conflito gerado pelo ataque colombiano a um acampamento das FARCs no Equador.
A intervenção da OEA reduziu a pressão e impediu uma escalada militar nos Andes, mas incertezas ainda persistem quando à durabilidade do arranjo. As insatisfações das partes não foram totalmente resolvidas e o equilíbrio momentâneo continua sujeito a novos repiques de antagonismos.O episódio sublinhou o isolamento da Colômbia que tanto Chavez quanto seu discípulo equatoriano Correa podem ser tentados a usar como desvios de atenção para seus problemas econômicos internos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Sarkozy em baixa

O segundo turno das eleições municipais francesas confirmou o avanço da esquerda e o retrocesso do partido do presidente Sarkozy.Perdendo em quase todas as principais cidades da França , a direita sofre uma derrota inesperada até pouco tempo atrás.Não é ainda o fim de um governo que começou há apenas dez meses atrás com forte propósito reformista, mas é um grande contravapor em seu ímpeto inicial.O governo tenta situar o resultado apenas no plano local mas esta folha de parreira mal esconde o voto de desconfiança que o eleitorado endereçou a Sarkozy .

A crise bancária se agrava

A insolvência e posterior venda do banco de investimentos Bear Stearns é um fato muito grave.Não ocorreu por que a instituição tivesse ativos de má qualidade,baixos rendimentos ou capital insuficiente.Afinal o FED injetou 30 bilhões de dólares para cobrir os buracos do banco.A crise ocorreu por que houve um enorme aperto de liquidez resultante de uma crise de confiança.Haverá outros bancos em situação semelhante?Até onde o FED pode salvar a situação e impedir uma reação em cadeia?

sexta-feira, 14 de março de 2008

Ainda o meio ambiente

A União Européia está discutindo, a nível de chefe de governo, a difícil implementação do corte de 20% das emissões de CO2 que já decidiu fazer. Este redução deverá ocorrer até 2020.
Se há unanimidade sobre o imperativo de agir ,há também fortes receios de que as medidas penalizem as indústrias européias a ponto de forçá-las a emigrar do continente.Isto se refere em particular às de uso intensivo de energia como aço,cimento,alumínio e automóveis.Adicionalmente, existe forte preocupação com a alta do petróleo e as turbulências dos mercados financeiros.
Como a Europa é pioneira na adoção de disciplinas ambientais severas , uma perda sua de ímpeto teria repercussão muito negativa sobre as negociações ora em curso para um acordo sucessor de Quioto. Mas a verdade é que há poucas questões politicamente mais difíceis do que uma forte redução das emissões de gases de efeito estufa.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Ponto para a defesa do meio ambiente

Houve um interessante fato novo nos Estados Unidos sobre a questão ambiental.Pela primeira vez em mais de uma década, a Agência de Proteção Ambiental tornou mais estritos seus critérios de poluição.Além disso, a Agência anunciou que vai defender uma modernização da política americana sobre poluição ,advogando a promulgação de uma nova lei geral que substitua a atual US Clean Air Act.
É mais um bom indício de que o governo Bush vai chegando ao fim pois sua posição sempre foi negativa neste terreno.

O isolamento da Argentina

Chega amanhã ao Brasil a secretária de estado americana,Condoleeza Rice.O prato forte será , seguramente, a querela da semana passada entre a Colômbia e seus vizinhos mas não é provável que surjam novidades, nem acordos significativos sobre qualquer tema. O aspecto mais relevante da viagem de Condoleeza à América do Sul é a exclusão da Argentina, o que já se vai tornando uma rotina nos planejamentos americanos e europeus.Por causa de sua aproximação com Chavez e da questão mal resolvida do default em sua dívida externa, nosso vizinho vai deixando de ser um interlocutor válido para os países ocidentais.
Isto não é bom pois aumenta a propensão à xenofobia do casal Kirchner e aproxima a Argentina do coronel. Seria bom que Lula usasse de seu prestígio para fazer ver estes fatos à ministra americana.

Luta fratricida na campanha eleitoral americana

Nas mais recentes primárias ,Barack Obama estacionou na captação de novos voto de eleitores
brancos. Isto pode ser um indicador de que sua ascenção na preferência da maioria do eleitorado deteve-se.
Ao mesmo tempo , Hillary não pára de atacar seu rival e , discretamente, vai trazendo a questão racial à campanha, como demonstrou a recente fala de Geraldine Ferrero( mais ou menos o seguinte: Obama só não é mais atacado por que é negro e as pessoas fazem cerimônia, mas sua capacidade de governar é fraquíssima).Ora Ferrero , que se demitiu da campanha de Hillary , foi uma candidata à vice-presidência pelo Partido Democrata e portanto não é nenhuma diletante.
Em outros termos, a campanha está ficando cada vez mais brutal.
Em fevereiro , o maior pesquisador eleitoral americano achava que 51% dos americanos preferem um democrata ,enquanto só 34% optam por um republicano.Como os democratas se entredevoram e McCain espera tranquilo com a candidatura republicana já garantida, estas proporções podem mudar.Esse não é um filme original.

Ingenuidade

Segundo a imprensa, o presidente Lula anunciou ontem que convidará os líderes de países como China, Índia e Rússia para discutir alternativas ao destino que os governos dão às respectivas reservas internacionais. "Não podemos ficar com todo esse dinheiro lá só desvalorizando", argumentou Lula.
É uma grande ingenuidade achar que países como a China e outros grandes detentores de reservas internacionais vão aceitar este convite.Não o farão por que se o manejo das reservas é certamente uma altíssima prioridade para eles ,como para nós, mas é também assunto da exclusiva soberania nacional de cada um.Tampouco o farão por que há diversos países emergentes com reservas muito maiores do que as nossas e eles não vão querer dançar pela nossa música.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A moderação de Evo é uma novidade

Evo Morales deu uma rara demonstração de equilíbrio, aceitando a determinação do Conselho Eleitoral de adiar os dois referendos antagônicos,que deveriam ter sido realizados em 4 de maio próximo e que ameaçavam aprofundar as fraturas da Bolívia.Tanto o governo quanto a oposição de Santa Cruz pretendiam votar sobre a autonomia regional ,com resultados opostos, logicamente.Agora, com o adiamento, haverá de novo algum diálogo em lugar de um divórcio.Mas , como nos casamentos muito comprometidos, a reconciliação é improvável e as trincheiras continuam abertas para o próximo combate.
A verdade é que Evo Morales introduziu uma dose maciça de divisão em um país que já era secularmente muito fragmentado.

O remédio do FED vai funcionar?

Ontem , Wall Street viveu um dia de glória com uma alta excepcional da Bolsa. Nestes tempos de turbulência , é ótimo que o mercado se mostre tão animado.Na realidade ,porém, o que houve foi a terceira tentativa de Ben Bernanke de fazer uma injeção maciça de recursos do FED para enfrentar a crise do crédito e impedir uma derrocada do sistema bancário. A pergunta de um milhão de dólares é : será suficiente?
A cada injeção maciça anterior de dinheiro , houve uma comemoração.Mas também houve logo depois uma recaída.A espiral negativa ainda não foi revertida.Dívida tornou-se uma palavra mal-vista , os bancos cada vez emprestam cada vez menos.Com isso as empresas são prejudicadas em sua capacidade de investir e crescer. Por outro lado, deverá haver um impacto sobre a disposição dos investidores estrangeiros de financiar o grande déficit comercial americano.
Em resumo, é bom torcer para que ,desta vez, Ben Bernanke teha acertado no remédio.

terça-feira, 11 de março de 2008

Um força militar na fronteira Equador-Colômbia?

O Secretário Geral da OEA,José Miguel Insulza, está no Equador em desempenho da missão de informação que lhe foi confiada pela organização após a incursão militar colombiana no território equatoriano. O governo de Quito repetiu-lhe o apelo de seu presidente por uma força internacional na fronteira com a Colômbia.Insulza ,experiente e inteligente diplomata, expressou dúvidas sobre a viabilidade da idéia.
Acho também muito improvável que os países membros da OEA se ponham de acordo sobre uma força de interposição.Primeiro, por que este contingente teria na prática, antes de mais nada, de patrulhar as FARCs. Segundo , por que isto seria uma missão de altíssimo risco já que a guerrilha trabalha junto com o narcotráfico.Terceiro ,por que- assim sendo -não imagino que países latino-americanos iriam mandar tropas para esta selva.

O Uruguai vai bem

O Uruguai teve excelentes resultados econômicos no ano passado.A economia cresceu pelo quinto ano consecutivo , chegando em 7,25% em 2007, ou seja, bem acima da média latino-americana, como vem ocorrendo há quatro anos.As contas públicas estão positivas e as exportações chegaram a níveis recorde.O único senão é a inflação que superou a meta do Banco Central, chegando a 8,5% .
Como fundador do Mercosul , o país continua a ter nele seu principal cliente ,exportando 27,5% do total.Ou seja, o Uruguai reclama muito mas continua se beneficiando bastante do Mercosul.
É claro que o alto preço das commodities agrícolas e a grande liquidez internacional ajudaram muito.Mas ,sobretudo, o Uruguai é um bom exemplo de como a esquerda moderada pode governar bem um país sul-americano.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Saída de cão

Só para fechar a semana conturbada.O coronel bateu em retirada,mandou voltar as tropas,reatou relações com a Colômbia e talvez esteja repensando suas estratégias.É mais um papelão de Chavez , que ficou falando sozinho e recuou pifiamente depois que suas valentias foram ignoradas por todos.

Sarkozy em apuros

As eleições municipais francesas correram mal para Sarkozy e a esquerda ganhou porcentagem e prefeituras importantes.É certo que falta o segundo turno ,no próximo domingo,mas já se pode sentir claramente um descontentamento com o presidente e a direita.
Nicolas Sarkozy foi eleito com votação expressiva e um forte mandato para reformar profundamente as regras sócio-econômicas da França.Ganhou sua primeira grande batalha com os sindicatos ao derrotar a greve dos ferroviários. Há poucos meses ,a opinião geral era que as municipais reforçariam sua dominância.As urnas mostraram que não é esse o sentimento dos eleitores.A esquerda progrediu ,ainda que não se deva superestimar o impacto político destes resultados locais.Mas , sem dúvida , o presidente levou um enfático cartão amarelo dos franceses.

Eleições na Espanha

A eleição geral espanhola deu uma vitória clara aos socialistas,que vão governar por mais quatro anos.O primeiro–ministro Zapatero, por muitos considerado um líder fraco, confirma sua ascendência ao final de uma campanha dura, em que ambas as partes convocaram fantasmas e ódios do passado.
Conheci o país na década de 50 : era subdesenvolvido e desigual .A prosperidade sem precedentes que vive a Espanha hoje estará na raíz do êxito dos socialistas, que consolidam sua imagem de boa governança e moderação.Enquanto isso , fracassa a esquerda que vê seu partido-Izquierda Unida- cair para dois deputados.Castigados também são os nacionalismos radicais que, em cada uma das províncias, concorriam com seu próprio partido.
A Espanha firma-se como um país europeu moderno,bipartidário e rico, superando totalmente três séculos de instabilidade, divisões fratricidas e pobreza.

sábado, 8 de março de 2008

arbitrariedade e retaliação

As arbitrariedades contra brasileiros no aeroporto de Madri são um episódio da campanha eleitoral espanhola.Como o tema da imigração ilegal desperta grandes paixões( aliás ,como nos Estados Unidos e no resto da Europa),o governo Zapatero terá certamente dado órdens à sua polícia de fronteiras para montar um show de rigor.E os nossos compatriotas , que não participam das eleições espanholas , pagam o pato injustamente.
Creio que deve haver protestos diplomáticos firmes e sobretudo todo apoio aos brasileiros em dificuldade.Retaliação, porém, é uma forma excessiva de agir ,pois que também representa uma forma de oportunismo político, que atinge pessoas que não tem culpa alguma no cartório , além de afetar a imagem do Brasil como um pólo de atração do turismo ibérico.

Novamente Bush

Como previsto ,George Bush vetou uma lei que o Congresso americano havia aprovado proibindo o uso de alguns métodos de tortura ,inclusive a simulação de afogamento.É mais um episódio lamentável que deve envergonhar uma nação com mais de dois séculos de vida democrática.

Mudando de assunto

O partido dominante da Malásia sofreu uma derrota política nas eleições de hoje, ainda que tenha mantido uma escassa maioria no Congresso.Com a rebelião do eleitorado de origem indiana e chinesa, que representa uma fração significativa do total, e o êxito do novo partido do Anuar Ibrahim, rompe-se um domínio esmagador que o ex- primeiro–ministro Mahatir havia construído para seu partido por décadas e começa a trincar-se um despotismo esclarecido que deu resultados econômicos excepcionais em diversos tigres asiáticos.Governando com mão de ferro, inclusive prendendo Anuar , seu ex- vice, sem legitimidade,Mahatir chegou a ter 90% dos votos.Embora a bonança persista,o controle político perdeu-se.Cingapura, a cidade estado vizinha que é outro exemplo de sucesso econômico notável,deve estar pondo as barbas de molho.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Um primeiro balanço da querela

Desculpem minha falta de assiduidade, mas esta semana foi pesada.
Voltando ao tema do momento:
A turma do deixa disso conseguiu desapartar a briga entre Equador e Colômbia e a OEA vai esfriar os ânimos mandando uma missão de investigação chefiada por seu competentíssimo secretário geral , o chileno José Miguel Insulza.Quem ganhou pontos até aqui ,além da própria OEA, foi o presidente Lula ,que discretamente conseguiu articular a trégua. Superou ,com isso, a inabilidade de seu ministro das Relações Exteriores( aliás ridicularizada em memoráveis caricaturas do grande Chico em O Globo) que , ao tomar partido anti-colombiano e advertir gratuitamente os Estados Unidos , quase compromete a autoridade diplomática do Brasil.Ficaram mal na foto, igualmente :
1.o presidente da Colômbia por afirmar que ia recorrer ao Tribunal Penal Internacional, um disparate jurídico;
2.o presidente do Equador que foi truculento e não explicou por que as FARCs estavam tão confortavelmente instaladas em seu território para guerrear o exército colombiano;
3.o coronel Chavez que tentou ser o centro da querela e derramou fanfarronice com agressividade militar ,mas não recebeu atenção de niguém( a não ser do pupilo equatoriano) e acabou ficando à margem falando sozinho.
Mas a questão está longe de estar resolvida. Haverá instabilidade enquanto houver o tumor das FARCs ,com seu cortejo de horrores, fustigando o governo democrático e constitucional da Colômbia, contra a posição de uma esmagadora maioria do povo colombiano.Haverá também turbulência por que o coronel não vai desistir de turvar as águas e insuflando seus pupilos Rafael Correa e Evo Morales a agitar também. A emoção européia e internacional em torno da libertação de Ingrid Betancourt é um bom gancho para isso.

terça-feira, 4 de março de 2008

Pode haver uma guerra entre Colômbia e Venezuela?

Com a mobilização das forças venezuelanas na fronteira, cria-se um situação que pode degenerar em guerra.Porém, uma escalada do conflito parece improvável já que a Colômbia tem uma superioridade militar lastreada em anos de combate contra as FARCs e no apoio financeiro e material dos Estados Unidos.O coronel comprou muitas armas (100 mil fuzis automáticos,aviões, tanques e até submarinos) mas não se sabe se tem pessoal treinado para operar tanta parafernália.O mais provável é o o líder “bolivariano” fique na fanfarronice , seu estado normal.Mas , existem preocupações sobre a possibilidade de atritos localizados e novas incursões em países vizinhos, de parte a parte .Isto vai manter altas as tensões e pode certamente degenerar em uma escalada militar de proporções inestimáveis.O presidente colombiano deu uma contribuição significativa para a distensão ao dizer que não vai mobilizar tropas em suas fronteiras.Vamos ver se a turma do deixa disso consegue também conter os arroubos do coronel venezuelano. O elemento tempo aí é muito importante.

Omissão

Ontem o ministro Amorim de uma coletiva curiosa.Falou de tudo sobre a crise,disse que a incursão militar colombiana no território equatoriano é grave( e é mesmo) ,mas não falou em Chavez nem em Venezuela.Ora, quem afirmou que vai mobilizar suas tropas para a fronteira colombiana foi o coronel,quem manda centenas de milhões de dólares para uma organização criminosa como as FARCs (que procura derrubar o governo democrático e constitucional de Bogotá) é ele também, quem faz a cabeça do presidente equatoriano Rafal Correa é ele de novo.
A Venezuela não tem nada a ver com o incidente entre Colômbia e Equador ,mas mete-se sempre em águas turvas, liderada pelo bom aventureiro que é seu presidente.
O Brasil jamais vai poder ter qualquer papel na solução do conflito se for por esta linha de Amorim.Vai esbarrar na desconfiança justificada da Colômbia ,por tomar partido do outro lado,e na falta de respeito de Chavez, por ser um mero coadjuvante de suas fanfarronices.E o Brasil, que nosso presidente tanto proclama ser o líder da região, vai ficar assistindo esta difícil situação no banco de reservas.

domingo, 2 de março de 2008

Recaída

O coronel andava muito comportado.Até tinha advertido alguns “aloprados” de seu partido para não cometerem excessos.De repente , lá vem novo surto: manda o exército venezuelano para a fronteira da Colômbia com dez batalhões e blindados.Por que? A alegação é que a Colômbia atacou as FARCs na fronteira do Equador (a centenas de milhares de quilômetros da Venezuela) e matou “ um bom revolucionário” , Raul Reyes, um dos mais importantes chefes da organização clandestina.
A realidade ,na verdade , é outra.Trata-se de um expediente velhíssimo: arranjar um inimigo externo para fortelecer uma posição interna enfraquecida.Depois da derrota no referendo, das más notícias econômicas e do bloqueio dos bens da PDVSA, o coronel precisava de um tônico político.Aí as FARCs libertam alguns sequestrados e Chavez se arvora em benfeitor.Agora , joga com os sentimentos anti-colombianos históricos na Venezuela para fazer rufar os tambores da guerra.
E o governo brasileiro que vai fazer? Espera-se que não mande rezar missa por Raul Reyes nem dê mostras de compreensão ao coronel.

sábado, 1 de março de 2008

Enfrentamento

A Bolívia continua caminhando a passos largos para o enfrentamento interno.Nesta semana, o Congresso aprovou dois referendos: um sobre a nova constituição e outro sobre a propriedade da terra na parte oriental do país.Ambos os plebiscitos visam a antagonizar as províncias da “Media Luna” anti-Evo Morales.Por sua vez, Santa Cruz vai realizar um referendo sobre a autonomia na mesma data de 4 de maio.Como os resultados são de antemão conhecidos , o fosso entre o altiplano e a planície oriental vai se aprofundar seguramente. O futuro da Bolívia está cada vez mais assinalado pela violência.
Não creio que o governo brasileiro possa fazer muito para evitar este curso.Em todo caso ,não deveria tomar partido acirrando assim os ânimos.E deve acompanhar os acontecimentos com muita atenção por que afinal nossa dependência do gás boliviano ainda será grande por alguns anos.