quarta-feira, 30 de abril de 2008

Perigo à vista para a economia argentina

O cabo de guerra entre os produtores agrícolas e o governo argentino não acabou.Em poucos dias expira a trégua de 30 dias mas nada indica que o executivo esteja cogitando de suspender a taxação de 44% das receitas de exportação agrícola.
Um sinal de que o governo permanece inflexível foi a demissão do ministro da Economia ,Lousteau, que havia proposto um conjunto de medidas para reduzir o imposto sobre as exportações, cortar os gastos públicos, elevar a taxa de juros e suspender as manipulações da taxa de inflação.Com a nomeação de um novo titular próximo a Nestor Kirchner , fica claro que nenhum desses caminhos sensatos está em cogitação.A Argentina pode estar caminhando para um impasse econômico.

Hillary muda o jogo

A vitória substancial de Hillary Clinton nas primárias da Pensilvânia recolocou-a na disputa.Ela comprovou sua maior popularidade nos grandes estados ,tendo vencido em 7 dos oito disputados, e solidificou a preferência dos operários,os chamados “bluecollar workers”. Com isso, ela renasceu como candidata à escolha do Partido Democrata e criou uma nova realidade,quando parecia que Barack Obama tinha garantido sua liderança.
Por outro lado , Obama sofreu um duro golpe com os ataques de seu mentor espiritual e foi forçado a romper com ele.Embora tenha mais delegados e mais votos populares, a sua posição nunca pareceu tão vulnerável desde o início da campanha.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Tibet

O anúncio do governo chinês sobre o início de conversações indiretas com o Dalai Lama não significa que a China tenha mudado de posição sobre o Tibet.É apenas uma mudança inteligente de tática, afastando-se da rigidez inicialmente demonstrada,quando do início dos protestos em Lhassa.A China não tem a menor intenção de solucionar agora a questão do Tibet.Visa apenas a reduzir a pressão internacional para facilitar a realização exitosa dos Jogos Olímpicos de Pequim,em agosto.

Confrontação na Bolívia

No próximo dia 4 de maio, as províncias bolivianas de Santa Cruz,Pando,Tarija e Beni votam um referendo sobre a autonomia em relação ao poder central.É muito provável que o resultado seja amplamente afirmativo.
Este fato pode desencadear uma aceleração no processo confrontacional que a posse de Evo Morales exacerbou, ao colocar uma velha questão de reivindicações provinciais sob a luz de uma guerra de classes na dicotomia elite branca x massas indígenas.
Só uma ação diplomática conjunta de Brasil e Argentina pode impedir que o conflito se deteriore.Mas é necessário que esta seja uma posição equidistante e isenta.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Agricultura em alta na Europa

Matéria muito interessante no Financial Times de hoje informa que os preços das terras agrícolas na União Européia atingiram cifras recordes.Com a crise global de alimentos que cada diz toma contornos mais fortes, a agricultura européia ,que era uma atividade econômica declinante, volta a atrair investimentos de grandes fundos.
Se esta tendência se acentuar, a Europa terá que reavaliar os subsídios agrícolas que concede aos seus produtores em quantias que já ocupam uma fatia muito grande do orçamento comunitário.

Nacionalizações na Venezuela

À medida que se avolumam os problemas da economia venezuelana,o coronel Chavez acelera seu impeto da nacionalizar empresas para encobrir fracassos e evitar protestos.Nas últimas semanas ,houve encampações nos setores de carnes, laticínios,cimento e siderurgia.É pouco provável que estas interferências com o funcionamento do mercado resultem na solução de problemas nas áreas de alimentação e construção civil, as mais sensíveis. Muita interferência geralmente resulta em escassez.Já vimos no Brasil, há vinte anos, a cena ridícula de helicopteros perseguindo bois no pasto.
É de notar também que as nacionalizações de cimento e siderurgia tiveram lugar em empresas de proprietários privados mexicanos e argentinos, o que pode ter impacto negativo nas relações da Venezuela com países latino-americanos.Além de comprometer mais ainda a imagem de alto risco que o país já apresenta e que só faz aumentar a dependência do petróleo.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Petróleo em disparada

O preço do petróleo chegou ontem à incrível marca de 117 dólares por barril.Há várias causas para isso mas todas se resumem numa frase: o mercado está muito ajustado e qualquer problema de suprimento reflete-se imediatamente no preço.
As mais recentes notícias são negativas.A Opep resolveu não aumentar sua produção.A Nigéria enfrenta problemas crônicos de ataques a instalações petrolíferas.Entre os países extra-Opep, também houve redução da produção no México e na Rússia , durante o primeiro trimestre.
Começa ,assim a formar-se um consenso de que a oferta global já atingiu seu ponto mais alto.A mais clara exceção é o Brasil que , nas palavras do “The Economist” desta semana , é o próximo gigante do petróleo.Os campos submarinos do chamado pré-sal levarão muitos anos para entrar no mercado e custarão somas imensas para serem desenvolvidos mas podem, no futuro, dar uma grande sobrevida ao petróleo como a principal fonte de energia do planeta.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Vitória de Lugo

A vitória do Bispo Fernando Lugo nas eleições presidenciais paraguaias foi indiscutível e se insere na mesma lógica populista que já triunfou em outras nações sul-americanas.Mesmo a formidável máquina do Partido Colorado e os recursos do General Oviedo não puderam impedi-la. Político inexperiente e carismático, Lugo não assume o poder , porém, num quadro de desmoralização e enfraquecimento terminal do Partido Colorado ,que domina o Paraguai há mais de sessenta anos.
Ao contrário do que ocorreu na Venezuela,no Equador e na Bolívia,a tradicional classe política paraguaia continua intacta.Ela vai seguramente dificultar muito a tarefa de governar e de fazer maiores reformas que Lugo anunciou na campanha .Por isso, creio que sua ênfase ,inicial pelo menos,vai ser muito na renegociação do Tratado de Itaipu , tese que não vai encontrar resistências internas e que ,manejada demogogicamente como vem sendo até agora,terá grande apoio popular.
Ambiguidades da parte das autoridades brasileiras , que já começaram a se fazer ouvir, só vão atiçar estas chamas , empurrando o Brasil para uma posição defensiva muito difícil de sustentar.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Hillary resiste

No último debate antes da eleição primária na Pensilvânia para escolher o candidato democrata , Hillary Clinton usou involuntariamente a expressão “ é por isso que ainda estou na disputa” admitindo com isso que está bem atrás de Obama.Não há mais condições para que ela ultrapasse seu contendor no número de delegados, mas também é muito difícil que ele possa vencer sozinho a indicação do partido na convenção.Assim sendo os “ super-delegados” , importantes líderes partidários não escolhidos nas primárias, serão chamados a decidir.O critério principal ,certamente, será qual dos dois tem mais chances de vencer o candidato republicano em alta,John McCain.Mas será difícil preterir o candidato que tem mais delegados e mais votos populares: Barack Obama.

A crise do arroz

Há menos de um mês atrás comentei aqui que o preço do arroz havia dobrado desde janeiro.Pois esta semana , o arroz tailandês ,que é o benchmark global ,chegou 1.000 dólares por tonelada, ou seja mais do que triplicou este ano.
O arroz é o principal alimento de três bilhões de pessoas em países em desenvolvimento na Ásia,África e América Latina.Esta alta de preços está gerando greves e manifestações em países tão variados quanto Costa do Marfim,Bangladesh e Haiti.A sensibilidade política da questão é tal que diversos importantes países produtores – como China,Vietnam,India,Egito e Cambódia- já impuseram restrições à exportações, o que certamente vai contribuir para tornar mais aguda a alta de preços internacionais.
Trata-se a meu ver de uma das questões internacionais mais delicadas do momento.

O Papa na América

Em sua primeira visita aos Estados Unidos,Bento XVI encontra a Igreja Católica ainda sob o impacto dos escândalos de abusos sexuais que custaram prestígio e bilhões de dólares em acordos legais.Por isso, sua primeira ênfase foi nessa questão, expressando a vergonha e a preocupação com a dor causada pelo comportamento de alguns padres.
O catolicismo é a religião de setenta milhões de americanos,a terceira maior congregação no mundo.Embora seja calculado que um terço dos americanos que foram criados na fé católica deixaram a Igreja, o afluxo de imigrantes latinos tem contribuído para mais do que compensar estas perdas.Os Estados Unidos têm também um dos maiores colégios de cardeais do mundo exercendo assim considerável poder no Vaticano.
É , assim , essencial para o Papa que sua visita contribua antes de mais nada para recuperar o prestígio da Igreja Católica na América.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Crise global de alimentos

Muito se fala da crise financeira originada no mercado imboliário dos Estados Unidos.Mas o que está-se configurando agora é um crise global de alimentos. Já fiz referência aqui à alta desmedida dos preços do trigo e do arroz.Esta tendência continua e pressiona os governos ,especialmente de países como India e China.A ONU anunciou que os estoques de alimentos estão muito baixos e que 36 países correm o risco de ter escassez de alimentos em 2008.
Daí podem resultar medidas protecionistas, controles de preços e restrições à exportação.O comércio de produtos agrícolas,que já é muito distorcido por todo tipo de intervenção no mercado , corre o risco de tornar-se ainda menos liberalizado e transparente.
E vem os sensacionalistas ,como o relator da ONU,Jean Ziegler, por a culpa nos biocombustíveis.

Pronunciamento precipitado

As perspectivas de existência de enormes reservas de óleo e gás nos fundos marinhos brasileiros são de tal ordem que podem mudar profundamente não só a equação econômica e energética brasileira ,mas a própria inserção internacional do Brasil.Por isto mesmo, pronunciamentos precipitados e pouco fundamentados , como o que foi feito pelo diretor geral da ANP, deveriam ser cuidadosamente evitados.Há o risco de que declarações desta ordem lancem dúvidas sobre a credibilidade e a lisura do governo, provocando questionamentos internacionais de todo tipo e interferindo com os interesses da Petrobrás.
Antes que se possa afirmar com segurança a existência de reservas, é necessário um trabalho difícil,árduo e caríssimo que a Petrobrás e seus sócios estão levando a cabo com afinco.Depois de comprovado o potencial, será preciso também continuar este esforço e atrair os gigantescos investimentos necessários para extrair os hidrocarbonetos abaixo da camada de sal, a grandes profundidades.Este não é um assunto que possa ser tratado com ligeireza.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Berlusconi vence novamente

Silvio Berlusconi venceu pela terceira vez as eleições parlamentares italianas.A margem da vitória foi bem mais ampla do que o esperado e não houve diferença entre as maiorias de centro-direita em ambas as casas do Parlamento.Por outro lado, houve um importante reforço do bipartidarismo com a derrota do Partido Socialista e do Partido Comunista, que não elegeram deputados.Este fato aumenta as perspectivas da governabilidade da Itália, há muito prejudicada pela fragmentação política, e reforça a mão do novo governo.
Berlusconi é um caso único.Em nenhum outro país europeu, seria possível ter na chefia do governo um homem que já enfrentou diversos processos por corrupção e que apresenta um caso claríssimo de conflito entre seus interesses de negócios e suas funções públicas.Mas a Itália tem uma paixão pelo “ cavaliere” Berlusconi.

sábado, 12 de abril de 2008

Maus presságios para o comércio internacional

Com grande rapidez ,o Congresso americano reagiu negativamente à proposta do executivo de aprovar o acordo de livre-comércio com a Colômbia.Foi mesmo além, alterando a regra que exigia que a Câmara se pronunciasse em prazo de 60 dias, para deixa-lo em aberto.A presidente Nancy Pelosi disse que o Congresso não aprovará nenhum acordo de comércio enquanto Bush não atender a outras preocupações econômicas mais prioritárias.Assim , o acordo com a Colômbia ficou bloqueado indefinidamente.
Se os Estados Unidos elegerem um presidente democrata, o protecionismo vai inviabilizar não apenas os acordos regionais- inclusive os já assinados com o Panamá e a Coréia – mas também a Rodada Doha, já tão combalida.

A Itália vota

Neste domingo ,a Itália vai às urnas.Silvio Berlusconi- cada vez mais parecido com uma máscara do kabuki japonês- tenta um terceiro mandato como primeiro-ministro.Mas já não promete mudanças profundas.No passado , elegeu-se anunciando que iria tirar a Itália da letargia em que caíra.Ao contrário, não deu o choque liberal prometido mas reforçou as tendências ao inchaço governamental e ao endividamento público.Agora, Berlusconi parece ter perdido o dinamismo e faz afirmações pessimistas, como “ a cruz que deverei carregar nunca foi tão pesada por que a situação nunca foi tão difícil para nós”.
Contra ele,pela centro-esquerda , disputa Walter Veltroni , político de uma nova geração, que já tomou uma iniciativa inovadora:dispensou a aliança com o leque de pequenos partidos que tradicionalmente apoiaram seu grupo ,mas também terminaram por fragiliza-lo , como no caso de Romano Prodi,o anterior primeiro ministro.
Mas, pelo intrincado sistema eleitoral italiano , o mais provável é que nenhum dos dois contendores consiga uma posição forte para governar.A Itália seguirá , se for assim, prisioneira de seus impasses e incapaz de fazer o “aggiornamento” de que tanto necessita para deixar de ser o país doente da União Européia.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Um grande teste para Pequim

As manifestações na passagem da tocha estão crescendo e se tornando um embaraço cada vez maior para o Comitê Olímpico, que gostaria de cancelar o resto da trajetória.Seria mais sensato.Não há realmente nenhuma possibilidade de que os protestos diminuam, o que pode levar a graves repercusões sobre os Jogos em si.
Mas a China continua em sua posição desafiadora e inflexível,insistindo em que a tocha passe pelo Tibet, o que é geralmente visto como provocação e falta de sensibilidade.Para um regime autoritário como o de Pequim fazer concessões seria perder a face e abrir um grande flanco para mais pressões externas e internas.Por isto, creio que a China não vai arredar pé da sua linha atual.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Economia bolivariana

A economia da Venezuela continua em franca deterioração.Acaba de ser anunciado que a inflação do primeiro trimestre chegou a 7,1%.As medidas do governo para conter a alta de preços falharam e devem continuar falhando.
Como as principais vítimas da inflação são justamente os que apóiam Chavez, é provável que a popularidade do coronel continue em queda.

Bolívia: difícil mediação

O Brasil está participando de um exercício de mediação entre o governo de Evo Morales e as províncias do leste boliviano.É uma boa causa ,pois a ruptura crescente na Bolívia é um problema grave para toda a nossa região e para o Brasil em particular.
O ministro Celso Amorim esteve em La Paz com esta finalidade.O êxito de sua missão é ,porém, muito duvidoso.Em primeiro lugar, por que a radicalização na Bolívia é forte por culpa do governo de Morales ,que forçou a mão diversas vezes contra as províncias da chamada Meia Lua. Santa Cruz está muito organizada e coesa em defesa de sua autonomia e dificilmente fará concessões agora.Em segundo lugar, por que o governo brasileiro é visto como próximo de Evo Morales e portanto não isento.Mais uma vez , o Brasil pagará o preço de ter abandonado sua tradicional postura de não–ingerência nos assuntos internos dos vizinhos,tomando partido e apoiando governos de esquerda.

Itaipu deve ser intocável

A campanha presidencial no Paraguai está trazendo à tona a questão da revisão do Tratado de Itaipu,como a recente visita ao Brasil do candidato Lugo demonstrou.Não ficou claro como o presidente Lula reagiu à solicitação paraguaia e Lugo saiu dizendo que havia obtido promessa de reavaliação do assunto.
O Brasil foi o mais justo e generoso possível com o Paraguai,não apenas no Tratado de 1973, mas posteriormente , aceitando modificar o regime de administração da usina para conceder ao lado paraguaio completa paridade conosco.
O governo brasileiro não pode tergiversar nesta matéria.Itaipu é vital para o abastecimento de energia do Brasil, já pressionado por outros fatores.Se aceitarmos fazer concessões contrárias ao interesse nacional, estaremos dando sinais de fraqueza e vacilação que podem custar muito caro, como já foi o caso com o gás da Bolívia.

Protecionismo bloqueia acordo com a Colômbia

O Presidente Bush enviou ao Congresso o acordo de livre comércio com a Colômbia,cuja negociação foi completada em 2006,com a assinatura dos governos.Nos termos da legislação americana, a Câmara dos Representantes tem 60 dias para se pronunciar e o Senado, logo após,mais 30 dias.Nenhuma das duas casas pode emendar o acordo.
Os analistas de Washington acreditam que,mesmo com a prioridade estratégica dada à Colômbia e as excelentes relações com o governo Uribe, Bush não vai conseguir a aprovação do acordo.A Colômbia já desfruta de acesso preferencial ao mercado americano pelas chamadas preferências andinas mas os Estados Unidos passariam a ter maior facilidade para exportar para esse mercado.Mesmo assim ,o discurso fortemente protecionista dos seus candidatos à presidência ao que tudo indica impedirá que a maioria democrata no Congresso vote a favor da ratificação do acordo.

domingo, 6 de abril de 2008

Espetáculo patético

Mugabe anuncia agora que está disposto a enfrentar seu rival Tsangarai num segundo turno .Mas o problema é que os resultados do primeiro turno não foram divulgados.Soube-se apenas que a oposição ganhou as eleições parlamentares.
Num país semi-destruído, com uma inflação estratosférica e carências de tudo, é óbvio que o presidente perderia a eleição em condições normais.Mas Mugabe , não contente de estar há 28 anos no poder, se agarra e manipula .É um espetáculo patético.
Os principais líderes africanos deveriam pressionar o colega de Zimbábue para sair.É a reputação da África que está em jogo.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Ingrid Betancourt

Ao anunciar que as FARCs não fariam gestos de paz e só libertariam Ingrid Betancourt como parte de um programa de troca de prisioneiros,o guerrilhero Rodrigo Granda mostrou mais uma vez a face pragmaticamente cruel de sua organização criminosa.As FARCs têm desprezo pela opinião internacional e subestimam a mobilização que existe na Europa pela libertação de sua mais importante refém.Só lhes interessa o ganho que lhes possa trazer o ás de trunfo que é Ingrid .
Porém ,se acontecer a sua morte ,que dizem ser iminente , as FARCs poderão ter que enfrentar uma ofensiva militar moralmente justificada do governo colombiano e um colapso do interesse internacional pela questão.Nesse caso , teriam desperdiçado um grande oportunidade e pagariam o preço.

É melhor não provocar o urso

Em sua reunião de cúpula de Bucareste ,a OTAN decidiu ontem adiar a adesão da Ucrânia e da Georgia.Seguiu assim o caminho do bom senso, ao contrário do que preconizava George Bush.Se a União Européia precisava ter uma lógica de alargamento por razões históricas , a expansão não deveria ser um objetivo principal para a OTAN.
Para países que faziam parte da finada União Soviética, ser membros da aliança atlântica funcionaria como uma espécie de seguro contra a mão pesada de Moscou.Inversamente,tal adesão não poderia deixar de ser vista pela Rússia como um cerco e uma provocação.Putin e seu sucessor teriam bons argumentos para aprofundar seu discurso agressivamente nacionalista se tanto a Ucrânia quanto a Georgia( a pátria de Yussef V. Stalin) - com quem a Rússia tem hoje querelas importantes – tivessem sido convidados a entrar para uma aliança militar cuja razão de ser original era confrontar a URSS.
Bush queria uma decisão ideologicamente enraizada na Guerra Fria.Mas os países europeus, vizinhos do grande urso, compreenderam que era preferível não provocá-lo e conduziram à sensata decisão de adiar o assunto.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Um presidente negro? Não há problema.

Recente pesquisa de opinião revelou que 76% dos americanos acham que o país está pronto para eleger um presidente negro.Em comparação com a pesquisa anterior , de dezembro de 2006, isto representa uma alta de 14 pontos.
Para quem tenha vivido nos Estados Unidos nos últimos quarenta anos, estes resultados são muito impressionantes.Na década de 60 ,o racismo ainda era um traço muito forte da realidade americana e só então começou a perder terreno com Martin Luther King e o movimento anti-segregacionista no sul . Mas a possibilidade de um negro ocupar a Casa Branca apenas tomou corpo recentíssimamente com a ascenção meteórica de Barack Obama, antes era impensável.
Este é o dinamismo da sociedade americana.Não creio que, em sociedades mais cristalizadas como as da Europa Ocidental, tal evolução fosse possível.

Trégua na Argentina

A greve dos produtores agrícolas e os bloqueios de estradas foram suspensos por 30 dias , com o chamamento de negociações com o governo. Resta saber se a presidente Fernandez de Kirchner vai interpretar a suspensão como uma capitulação e portanto não pretende atender a qualquer das reivindicações dos agricultores.Estas demandas centram-se na eliminação dos aumentos de taxas à exportação, divisão dos recursos fiscais com as províncias e não apenas arrecadação pelo governo federal ,além do fim da utilização de decretos executivos para executar a política tributária.
Se o governo julgar que ganhou a parada e desconsiderar sumariamente as reivindicações dos agricultores ,creio que haverá uma retomada da confrontação com novas greves e manifestações pois os movimentos ruralistas sentiram sua força e o apoio que têm na classe média urbana.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Pequena janela de liberdade

Vale a pena visitar o blog Generacion Y , de Yoani Sanchez.Trata-se de uma jóvem cubana ,que reside em Havana e publica suas postagens ,com graça e com seriedade, a partir de lugares públicos ,como os raros internet-cafés de seu país.São depoimentos inteligentes e descontraídos.
Diz Yoani que "hemos empezado a utilizar Internet para reconectarnos cívicamente", já que qualquer iniciativa de grupo ,mesmo seja para criar um mercadinho de compra e venda de coisas velhas , é considerada associação ilegal em Cuba.É a beleza da internet.

O triste fim de Mugabe

Robert Mugabe foi um importante líder da luta pela descolonização na África.Mas ,em vinte e oito anos de poder total, destruiu o Zimbábue.Liquidou a agricultura ,que fazia do país um dos principais produtores de tabaco e alimentos da região ,através de expropriações brutais.Levou a economia a um total desastre com hiper-inflação recorde , desabastecimento e grande deterioração das condições sociais da população.Reprimiu seus oponentes com violência e governou privilegiando o pequeno grupo que o cerca.
Agora ,o povo fartou-se de Mugabe e provavelmente o derrotou nas urnas.Mas o velho ditador não quer entregar o poder e utiliza todas as artimanhas para não ser apeado do poder.Malgrado isso, creio que seus dias estão contados.O que é bom para a reputação da África , tão atingida por ditadores desastrosos.

terça-feira, 1 de abril de 2008

A China na defesa

O governo chinês promoveu uma cerimônia asséptica para a chegada da chama olímpica a Pequim.Por sua vez, o presidente Hu Jintao declarou a um jornal chinês que a segurança deve ser a preocupação máxima pois sem ela o prestígio mundial da China será afetado.
Depois do susto do Tibet , o regime se entrincheira e prepara suas defesas contra seus numerosos oponentes, em especial na área de direitos humanos e liberdades públicas.Será que os manifestantes vão ser incapazes de atuar em território chinês durante os Jogos? Que consequências terá a repressão justamente para o prestígio da China?

Impasse

Com breve recuo tático, o governo argentino procurou dividir a resistência dos movimentos ruralistas à sua política econômica .Ofereceu isenção tributária a pequenos produtores que colham menos de 500 toneladas de soja mas afirmou que o aumento da taxa sobre as exportações será mantido.A proposta foi recusada.
O governo de Cristina Fernandez de Kirchner começa mal , com perspectivas de novas manifestações no futuro.Para aliviar a crise energética ,que pode agravar-se muito, foi anunciada a compra de combustíveis da Venezuela, o que sublinha ainda mais a dependência que a Argentina vai tendo da boa-vontade do coronel.Enquanto isso , as chances de atrair investimentos estrangeiros são muito pequenas.