os equívocos da posição brasileira

O excelente jornalista econômico Carlos Alberto Sardenberg publica hoje em O Globo um artigo devastador em que analisa ,com rigor cirúrgico, os graves erros da posição brasileira na negociação recém finda em Genebra.Vale ler.Duvido que alguém consiga rebate-lo com fundamentos.

Transcrição de artigo meu publicado hoje no Estadão

As razões do fracasso
O desfecho dramático de Genebra foi crônica de um impasse anunciado.Não era necessário ter dons divinatórios especiais para preve-lo.Surprendi-me mesmo, devo admitir, que o diretor geral da OMC, meu caro amigo Pascal Lamy, tenha levado tão longe seu esforço para obter um resultado ainda em 2008,malgrado a fraqueza do governo Bush e diversas outras questões básicas que a seguir abordarei.
Em dezembro de 1993 concluiu-se a Rodada Uruguai, depois de anos de fracassos. Iniciado em Punta del Este em 1986, este conjunto de negociações era muito mais ambicioso do que o atual pois compreendia ,além da liberalização do comércio de mercadorias, a criação de mecanismos regulatórios do comércio de serviços, dos investimentos internacionais e sobretudo de um mecanismo para solucionar controvérsias sobre a aplicação das regras e normas daquilo que se buscava criar: a OMC.Tive a honra de ser o negociador principal do Brasil na fase conclusiva sucedendo grandes embaixadores, como Georges Maciel, Rúbens Ricupero e Celso Amorim. Nessa etapa final da Rodada Uruguai, a agricultura mal chegou a ser objeto de negociações ,pois as grandes potências do comércio internacional já se haviam decidido por normas que apenas faziam ajustes mínimos no protecionismo praticado em todo o Primeiro Mundo e jogavam para o futuro a retomada do assunto.Os resultados foram ,mesmo assim,importantes para a grande maioria das nações que viu o comércio internacional florescer e gerar riqueza em todo o mundo.O Brasil também beneficiou deles , exceção feita à agricultura.Mas este período não é o objeto desta análise, trata-se apenas de uma referência.
Vejamos o quadro em 2008 e examinemos as razões do fracasso.
A questão da agricultura foi ,sem dúvida, a primeira causa do fracasso da Rodada Doha.Mesmo que hoje a porcentagem da força de trabalho que se encontra nas zonas rurais não exceda 3% do total em todo o Primeiro Mundo, o poder de fogo do lobby agrícola é assombroso seja em Washington,Bruxelas ,Paris, Berlim,Tóquio,Oslo ou Berna. Há décadas ,o Brasil bem o conhece pois sofre discriminações pesadas nesta área em café, açúcar,óleos vegetais, algodão e tantos outros produtos. Os Estados Unidos estão hoje com o congresso mais protecionista dos últimos 60 anos.Na Europa , o presidente Sarkozi superou até o rei do protecionismo agrícola- seu antecessor Chirac- ameaçando abertamente de tirar o tapete do comissário Mandelson ,que representava a União Européia na negoiação da OMC.Não creio que houvesse chances mínimas de aprovação nos parlamentos nacionais -onde os interesses setoriais estão entrincheirados- de reduções sensíveis no protecionismo agrícola.
Em segundo lugar, os países mais ricos já obtiveram no passado tudo que realmente desejavam: reduções tarifárias enormes entre si, disciplinas no comércio de serviços , na proteção da propriedade intelectual e um mínimo de normas sobre investimentos.Adicionalmente , haviam obtido resultados muito importantes nos compromissos assumidos quando da adesão de diversos países à OMC ,em especial a China.
Terceiro: China considera hoje que já fez todas as concessões ao seu alcance político e econômico e não tinha portanto maior interesse numa rodada como a atual, até por que seu comércio exportador é florescente e dinâmico com as regras atuais.
Em quarto lugar, tanto a Índia como a China estão longe de ter modernizado globalmente seus setores agrícolas e ,portanto , consideram política e economicamente explosivo um deslocamento de suas já paupérrimas populações rurais pela competição com produtos oriundos de agriculturas eficientes e modernas. Seus líderes receiam tanto que a população agrícola se insurja contra uma abertura dos mercados que não hesitaram em bloquear o processo em Genebra.
Eis aí quatro macro-circunstâncias políticas que inviabilizaram o acordo.Elas são as mesmas ,com alguns ajustes, que desde 1996 impedem o êxito de uma negociação que começou sendo chamada de Rodada do Milênio e evoluiu para o nome atual de Doha.
Tínhamos uma velha ambição no Itamaraty, nos anos 60 , de reunir os países em desenvolvimento num bloco tão coeso e exigente que poderia nos levar a suprir nossos déficits individuais de poder e a forçar mudanças nas regras do jogo que nos favorecessem.A realidade cedo frustrou este sonho romântico. Muito apostamos nos ultimos anos na unidade do Grupo dos 20.Ela foi de fato muito útil por um tempo mas,na hora H, acabou por fragmentar-se ao embate dos duros e inevitáveis choques de interesses num grupo sem uma coesão profunda. Nossa aposta revelou-se uma decepção.
Assim, embora o Brasil tenha desempenhado um papel relevante, maior ainda do que no passado, não tinha peso suficiente para contribuir decisivamente na superação das grandes inércias acima apontadas.Justo é reconhecer o profissionalismo e o empenho de nossos negociadores, a começar pelo atual ministro das Relações Exteriores.Terá havido algum voluntarismo e alguma superestimação da influência que podíamos ter no processo mas não há por que questionar-lhes a competência.
É necessário, contudo, constatar que houve um equívoco estratégico na posição do atual governo, desde o início.Para o Brasil esta é a pior parte.Malgrado a existência de imensas dificuldades em levar a bom termo a Rodada Doha,que estavam à vista de todos, os formuladores de nossa política comercial colocaram todas as fichas nesse caminho.As alternativas que tínhamos,algumas difíceis mas interessantes, deixamos morrer.
O resultado final foi que nosso país ficou de mãos vazias.

Retorno

De volta ao Brasil.Amanhã ,no Estadão e no Globo, minha opinião sobre o fracasso da Rodada Doha da OMC.Transcreverei aqui o artigo.

A internet na China

A China já ultrapassou os Estados Unidos como a maior coletividade de usuários da Internet.São 253 contra 223 milhões ,com crescimento de 56 % no último ano para o número de internautas chineses.Mas, enquanto nos Estados Unidos 71% dos habitantes têm acesso à rede , na China são apenas 19% ,o que lhe dá espaço ainda para grande crescimento.
Por outro lado ,a China já desenvolveu dois sites muito utilizados : o Tencent , de jogos, e o Baidu , de buscas, que competem com seus rivais estrangeiros por grandes fatias do mercado local. Tudo isso ,malgrado a censura que o governo chinês exerce sobre a Internet.
É mais um poderoso indicador da força da China. Como dizia um grande escritor francês,Alain Peyrefitte, há trinta anos e cinco atrás:"quando a China acordar ,o mundo tremerá".

A crise do setor aéreo mundial

As companhias de aviação vergam sob o peso da alta do petróleo.Sem poder repassar inteiramente as elevações para os clientes, as empresas cortam custos ,empregos e vôos.As cinco grandes americanas devem perder entre 7 e 15 bilhões em 2008.Desde o começo do ano ,vinte e cinco empresas já fecharam suas operações.Enfim, uma indústria cuja performance financeira histórica é muito fraca , sofre agora desafio ainda maior do que a crise pós 11 de setembro de 2001.Calculam os analistas que seria necessário subir o preço das passagens entre 20 e 30% para evitar queda da rentabilidades das companhias..

Com a elevação dos rendimentos das pessoas especialmente nos países emergentes , esta situação ameaça roubar os novos consumidores da oportunidade de desfrutar de viagens aéreas e deve ser mais um fator negativo para o comércio e a economia mundial .

Cocaina desestabiliza o interior colombiano

Recomendo a leitura do importante e bem pesquisado artigo sobre o cultivo de cocaína e seus efeitos sobre a população do interior colombiano:
Cocaine Sustains War in Rural Colombia, by Simon Romero
The New York Times - July 27, 2008

Dízima periódica na Argentina?

Depois de cinco anos de forte crescimento – que fizeram a fortuna política do casal Kirchner- em 2008 os números não deverão ser tão favoráveis, segundo todas as pesquisas e os mais confiáveis indicadores .As causas são bem conhecidas : inflação em alta, gargalos energéticos, interrupção das exportações agrícolas, dúvidas crescentes sobre a sustentabilidade fiscal e incertezas políticas.
O governo ainda possui a chance de reverter estas tendências.Mas a prepotência e a incompetência do casal K tornam difícil rever o modelo que deu certo até aqui, mudando as políticas em vigor para adaptá-las às atuais circunstâncias .Com isto, a probabilidade de uma forte crise aumenta a cada dia. Haveria a confirmação de uma dízima periódica , o que seria muito negativo para a Argentina e para todos os seus parceiros , a começar pelo Brasil.

Obama na Europa

O editor chefe da revista Der Spiegel resumiu muito bem a recente visita de Barack Obama dizendo que : “ a Europa está tomando conhecimento direto do 44º.presidente dos Estados Unidos.Qualquer um que o ouça, saberá que ele não é apenas ambicioso mas que também fará exigências,como um apoio mais decidido dos alemães, britânicos e franceses no Afganistão e no Iraque…George Bush é o dia de ontem , a versão texana da superpotência arrogante. Obama significa o dia hoje , a utopia que reza que “ todos queremos ser irmãos para poder salvar o mundo”.

Indicios de guerra fria no continente

O Coronel Chavez assegurou,segundo a agencia bolivariana de noticiais , que a Russia continuara’ suprindo a Venezuela “com as armas necessarias para a defesa do pais”.Depois de dizer que os Estados Unidos constituem grave ameaca `a seguranca venezuelana, o lider venezuelano disse que `` se algum dia a frota russa chegasse ao Caribe,hasteariamos bandeiras, tocariamos tambores e os hinos dos dois paises por que seria a chegada de um amigo que veio dar uma ajuda , de um aliado nosso.
Qualquer semelhanca com os idos da Guerra Fria , nao e’ mera coincidencia. E' preciso analisar tambem a correlacao desta noticia com o reestabelecimento da IV Frota e de uma eventual base americana na Colombia.
Nada disto , evidentemente, e’ bom para nossa regiao.

Blackwater

Recomendo a leitura de artigo intitulado “ Blackwater veio para ficar” escrito por Jeremy Scahill no The Guardian de 23 de julho.Scahill e’ autor do livro “ Backwater: the rise of the most powerful mercenary army” em que descreve este instrumento do poder americano no Iraque e no Afganistao.
As grandes potencias tiveram no passado suas linhas auxiliares: a Legiao estrangeira , os Gurkhas etc… mas nao tenho conhecimento de nada semelhante ao poder mercenario do Blackwater que o governo Bush tem usado de forma crescente.

Base americana na Colombia?

Os Estados Unidos podem iniciar em breve conversas com o governo Uribe a fim de procurar estabelecer uma base militar permanente na Colombia .Depois de recriar a IV Frota ,seria dobrar a parada e dar razao a todos os temores (e paranoias) latino-americanas.As autoridades civis americanas precisam conter estes impetos contraproducentes de suas forcas armadas. E Uribe igualmente pois nada teria a ganhar com isso.

Pessimismo

No inicio do ano, em viagem a Atlanta,tinha me impressionado o sentimento pessimista que existia nos Estados Unidos.Hoje, o Instituto Gallup publicou uma pesquisa que mostra que a percepcao deteriorou-se mais ainda.Apenas 17 % dos americanos acham que as coisa vao bem, enquanto 81% dizem estar insatisfeitos.Nos ultimos trinta anos so’ em 1979 e 1992 foram registrados numeros piores.
Barack Obama e John Mc Cain enfrentam um grande desafio em reverter o atual negativismo do povo .Bill Clinton foi eleito em 92 dizendo a Bush pai: e’ a economia,estupido.Qual sera’ a frase vencedora em 2008?

Sociais democratas x eixo bolivariano

Transcrevo abaixo trechos de interessante materia de El Pais ,de ontem

"Movilización mundial contra las FARC
La buena vecindad

La presencia de Luiz Inácio Lula da Silva y Alan García en el concierto por la liberación de los rehenes de las FARC celebrado ayer en la Amazonia colombiana escenifica todo un gesto político: Brasil y Perú se han convertido en los mejores aliados del Gobierno colombiano en un momento de graves tensiones con Venezuela, Ecuador y Nicaragua ....
Brasil y Perú, como Ecuador y Venezuela, sufren las incursiones de las FARC en su territorio, p trasiegaon armas y drogas. La diferencia entre los vecinos, dice Bogotá, es que Brasilia y Lima colaboran lealmente con las autoridades colombianas, lo que no es el caso de Quito y, sobre todo, de Caracas, según revelaron los ordenadores de Raúl Reyes, número dos de la guerrilla, muerto en marzo en un bombardeo de la aviación colombiana. ...
"Brasil es un elemento de estabilidad en la región, porque mantiene una línea constructiva. Lula nunca se ha dejado llevar por la retórica chavista y podría desempeñar un buen papel mediador en el conflicto colombiano", comentaba días atrás en Madrid Alain Délétroz, vicepresidente del International Crisis Group. ...
Lula es consciente de que carga sobre sus hombros el peso de un liderazgo regional que contrarresta los afanes hegemónicos de Chávez. El mensaje que envía con su visita a Colombia, donde ha firmado importantes acuerdos de cooperación económica, militar y de seguridad fronteriza, no puede ser más claro. Hay un eje socialdemócrata que marca distancias con el eje bolivariano."
Celso Amorim e Marco Aurelio -bolivarianos de coracao- ficariam contrariados de ler este materia.Sera' que ja' perdem influencia?

Africa

Estou no Quenia com minha mulher e nossos netos.
Este pais e' um exemplo extraordinario de boa conservacao da natureza e de gente cordial .Os parques nacionais sao bem administrados e ,malgrado um numero consideravel de turistas em jipes, abrigam uma enorme variedade de animais.Estivemos em Amboseli e Samburu.Agora vamos para Masai Mara,ultima escala.Vimos uma manada de cem elefantes dirigindo-se a um lago, uma familia de tres leoes adultos com tres filhotes, zebras Grevy elegantes com suas listas mais finas, girafas reticuladas, tres cheetas `a espreita, impalas , gerenuks, passaros coloridos maravilhosos, enfim a maior celebracao da fauna.Aqui parece que a natureza foi criada ha' muito pouco tempo.

p.s.novamente desculpem os erros de ortografia ,o computador local nao fala portugues,mas ja ' e' incrivel que haja internet e telefonia celular nos parques nacionais

Descontrole

`As vesperas de colher mais um fracasso em sua ja' bem fornida trajetoria no Itamaraty ,o ministro Celso Amorim esta' vendo desaparecer as chances de sucesso em sua maior aposta:a Rodada Doha da OMC.E perde o controle, assimilando os paises desenvolvidos aos nazistas e suas taticas `as de Goebels.
Ele tem basicamente razao em dizer que os ricos querem obter muito e dar pouco aos paises em desenvolvimento.O jogo e' pesado mesmo.
Mas, como na velha piada do sacristao comentando o sermao do padre : "o senhor foi bem ,mas nao precisava chamar o diabo de filho da p."

Nelson Mandela

Mandela faz noventa anos hoje.
Muitos o consideram um santo.Ele certamente tem uma bondade rarissima.Mas ,antes de mais nada, Mandela tem sido um simbolo moral e um politico de enorme habilidade.Em nosso tempo,quando os politicos preocupam-se sobretudo com as pesquisas de opiniao e com gestos de impacto mediatico, o grande Madiba sempre teve como principal instrumento seu sorriso luminoso que ,como um sol, ilumina seu pais desde que saiu da prisao apos vinte e sete anos de cativeiro.Jamais vacilou nos dois principios absolutos de sua vida : o fim do apartheid e a democracia de um voto por pessoa,mas jamais pretendeu ter mil prioridades nem permitiu-se manipula-las ao sabor dos acontecimentos.

Alta dos alimentos

O Secretario Geral da ONU fez um discurso forte hoje referindo-se 'a gravidade da alta dos precos dos alimentos.Em seu comentario, o correspondente da BBC em Nova York disse que uma das causas mais importantes do problema eram os subsidios que os Estados Unidos e o Brasil (sic) oferecem aos produtores de biocombustiveis.E' incrivel que um profissional de uma emissora mundialmente respeitada pela qualidade de seu jornalismo cometa um erro factual deste tamanho.

Gravissima derrota para os Kirchner

A Argentina e' mesmo um pais surpreendente.
O governo achava que ,submetendo ao Congresso- onde tem maioria teorica folgada- o aumento da taxa sobre as exportacoes, poderia legitimar sua posicao, derrotando politicamente as liderancas agrarias e confirmando a imposicao do confisco de 44% das receitas.Aconteceu ao contrario e do modo mais cinematografico.O Senado discutiu por 18 horas e votou.Deu um empate de 36 a 36.O voto de Minerva era do vice-presidente e a vitoria de Cristina Kirchner parecia certa no papel.Ora ,o vice Cobos votou contra o governo a que pertence e a medida foi inapelavelmente derrotada.
Este ano e' impossivel reapresenta-la legalmente de modo que o executivo vai ser obrigado a respeitar a decisao do Congresso e a renunciar a uma polpuda arrecadacao fiscal.
Pior ainda, os Kirchner sofrem uma derrota politica muito grave ,perdendo feio um enfrentamento com o importantissimo setor agrario

A Europa e' atingida

Enquanto os Estados Unidos se afundavam na crise imobiliaria ,na recessao e no "credit crunch", a Europa parecia um baluarte da prosperidade e da estabilidade.Hoje verifica-se que houve uma mudanca profunda no quadro:a Europa ja' entrou na baixa em diversos paises e mesmo na Alemanha o nivel de confianca 'e baixo.Sera' que vamos ter a "tempestade perfeita" ?

p.s. escrevo de Paris, de onde sigo hoje para o Quenia com a familia.Dai as falhas tipograficas e as eventuais ausencias.

Virada de página

É muito positiva , se for duradoura, a decisão de Uribe e Chavez de virar a página de seus fortes atritos.Poderá representar o começo da estabilização de uma região da América do Sul caracterizada, nos últimos anos , por enfrentamentos e turbulências.
Minha dúvida sobre a durabilidade do entendimento consiste em que Chavez e Uribe não podiam ser mais divergentes em suas posições básicas: Chavez diz-se socialista, o outro é conservador, Uribe é aliado dos Estados Unidos , o outro proclama-se inimigo, para só mencionar os pontos mais fortes.
Para Chavez ,o principal benefício da conciliação consiste em atenuar sua imagem de intervencionista nos assuntos internos de outros países.Para Uribe, o ponto essencial está num afastamento de Chavez das Farcs , que poderia constribuir para o enfraquecimento adicional e uma eventual derrota definitiva da guerrilha.
O encontro no estado venezuelano de Falcon pode assim marcar o início de uma etapa mais construtiva para todo o continente embora seja prudente ressaltar as dúvidas sobre a consistência da “virada de página”.

A perita em agricultura

A presidente Cristina Kirchner afirmou hoje que se tornou uma “especialista e pode dar aulas sobre vacas,soja e trigo” por que , em virtude do longo conflito com o setor agrário estudou profundamente o funcionamento destes setores da economia argentina.Ela demonstra uma capacidade de absorção digna de um aluno genial ,mas faz um uso político e econômico sofrível dos seus estudos pois ,além de paralisar as principais exportações da Argentina por vários meses , conseguiu criar um impasse político não resolvido que ainda ameaça levar o país a uma grave confrontação interna.

Para que a IV Frota?

A decisão americana de recriar a IV Frota e enviá-la a patrulhar as águas do Atlântico Sul tem sido vista ,por alguns, como uma ameaça ao Brasil seja na Amazônia ,seja nos campos petrolíferos da nossa costa.
Uma frota de 11 navios de guerra,com um porta-aviões, não é evidentemente uma missão de boa-vontade ou de caráter humanitário.É ,antes de mais nada, uma projeção de poder ofensivo dos Estados Unidos,assim como no jogo de xadrez o movimento de uma peça poderosa cria uma pressão sobre determinadas casas, que é preciso levar em conta por ambos os jogadores.
Daí a concluir que os Estados Unidos vão dar o bote sobre a Amazônia ou os campos de pré-sal vai, entretanto, um enorme exagero.Um ataque deste gênero constituiria um ato inominável de pirataria internacional, que encontraria o repúdio e a condenação universal .A esquerda alimenta este cenário- que está presente no imaginário latino-americano desde o tempo das invasões dos marines- para canalizar e fomentar o anti-americanismo que lhe é tão central.
Na prática, a IV Frota é um instrumento de pressão , um aviso aos navegantes e o Brasil certamente não é endereço. Pode-se criticar o instrumento e a oportunidade de sua criação.Mas daí a prever cenários apocalípticos...

Chile em dificuldades

O Chile, que é considerado o paradigma da boa governança econômica na América Latina ,está sendo fortemente afetado por pressões inflacionárias. No mês de junho , a taxa anualizada chegou a 9,5% , perto do triplo do registrado no mesmo período do ano anterior.O fator essencial tem sido a alta dos alimentos e dos combustíveis,pouco suscetíveis a altas de juros.Com efeito,o Banco Central já subiu os juros sete vezes nos últimos doze meses .Sua credibilidade encontra-se ameaçada pela falta de resultados até agora o que se soma aos problemas que o já debilitado governo de Michele Bachelet enfrenta.

Mísseis iranianos-3

Diversos órgãos da imprensa internacional levantaram dúvidas sobre as imagens divulgadas por fontes oficiais iranianas a respeito dos mísseis lançadas nos últimos dias.Com análises sofisticadas apontam para a manipulação digital das imagens, inclusive acrescentando mísseis onde não os havia.Pode-se tratar de um blefe para obter efeito dissuasório contra possíveis ataques externos ou de uma jogada por parte do presidente iraniano para mostrar força frente aos seus inimigos.

Mísseis iranianos -2

A grande empresa francesa de petróleo Total anunciou sua retirada do Irã,seguindo assim as decisões anteriores da Shell e da Repsol.O motivo ,segundo seu presidente ,de Marjorie, foi o risco excessivo em permanecer no país.

O segundo passo rumo a uma confrontação foi o novo teste de mísseis do Irã,ocorrido hoje.A isto contrapôs-se a declaração do ministro da Defesa de que Israel é a maior potência militar da região e está pronto a defender sua segurança ,como o demonstrou várias vezes no passado.Com a declaração da secretária de Estado Condoleeza Rice de que Washington apoiaria seus aliados, fecha-se um círculo preocupante.

O que parece estar subjacente é a disputa de poder que se trava em Teerã por causa da condução agressiva e militarista do presidente Aminedjah.Nesse sentido , os testes com os mísseis são uma demonstração de força em complemento às tentativas de prolongar em suas negociações sobre o enriquecimento de urânio que o Irã conduz com os países ocidentais.

Mísseis iranianos

O Irã testou novos mísseis ontem , sendo um deles capaz de atingir Israel,segundo fontes de Teerã.Como o programa nuclear já é objeto de sérias dissensões entre o Irã e as potências ocidentais, o fato novo vem acrescentar mais um poderoso ingrediente na tensão existente.
A escalada tem vantagem para o Irã de realçar seu prestígio no mundo muçulmano mas pode conduzir a um ataque preventivo pela Força Aérea de Israel.
Os Estados Unidos não devem ter interesse em abrir mais uma frente militar ,além das duas em que já se encontram bastante atolados.Não creio que Israel tampouco tenha ,por ora, desejo de abrir a caixa de Pandorra que um ataque ao Irã representaria.
Só o efeito dramático que uma iniciativa militar desse gênero poderia ter sobre os já altíssimos preços de petróleo bastaria para pensar vinte vezes antes de dar uma ordem desta gravidade.

As FARCs são hoje uma massa falida

Muito se tem discutido se o duríssimo golpe da libertação de Ingrid representa o fim ou o começo do fim das Farcs.Nas condições atuais , esta organização terrorista não tem mais relevância militar, nem apoio político , nem capacidade de reverter esta quadro.Elas não vão acabar por que ainda tem efetivos e recursos financeiros oriundos de sua sociedade com o narcotráfico. Mas a realidade é que as Farcs são hoje uma massa falida.

A velocidade da sua liquidação vai depender da força que o governo colombiano quiser empregar conra elas ,do apoio financeiro e logístico que ainda possam continuar recebendo de várias origens e da disciplina que seus líderes sejam capazes de impor a seus integrantes para seguir lutando ou mesmo para iniciar negociações com o governo de Bogotá.

Novo capítulo da querela na Argentina

A Câmara dos Deputados argentina aprovou ,em votação apertada , a imposição de elevadas taxas de exportação aos produtores agrícolas.Falta a votação do Senado mas é provável que aí também o governo obtenha um voto favorável.
O que farão agora os líderes do movimento agrícola? Retomarão a greve e os bloqueios? Em suas primeiras declarações , dizem que sim.Na hora da verdade ,entretanto, isto pode ser difícil pois a votação no parlamento dá maior legitimidade ao ato original do governo de aumentar a taxação.

Dinossauro

Morreu ontem o ex-senador Jesse Helms.Foi provavelmente o mais assumido reacionário da política americana nos últimos trinta anos.Conseguiu opor-se simultaneamente- sem ser marginalizado ou derrotado em eleições -ao movimento de direitos civis e condenação do racismo, à flexibilização de relações com Cuba e a todas as causas modernas da tolerância e respeito dos direitos individuais.Um verdadeiro dinossauro que ,talvez mais do que qualquer outro, deu força a outro dinossauro ,seu arqui-inimigo Fidel Castro.

As Farcs seguem ladeira abaixo

A situação das Farcs é realmente miserável.Além de todas as derrotas que sofreram este ano, foram condenadas até mesmo por Fidel Castro , há cinquenta anos é o grande sacerdote da guerrilha na América Latina.
Este estado de orfandade terá contribuído para o sucesso da missão de resgate de Ingrid Betancourt e seus companheiros de cativeiro.A descrição minuciosa da operação mostra que os responsáveis pelos sequestrados foram iludidos e apanhados como crianças, o que não deveria ser o padrão experiente de um movimento guerrilheiro que combate na selva há perto de quarenta anos.
Por outro lado, a alegação de que houve uma negociação com as Farcs e o pagamento de uma
polpuda soma pelo resgate, originalmente difundida pelo presidente equatoriano Rafal Correa,é uma jogada óbvia para mostrar que a guerrilha está viva e esperta, além de mais rica.Não se sustenta, à luz dos relatos dos próprios sequestrados e das provas já divulgadas pelo governo colombiano.

Ingrid e Sarkozi

A mídia internacional reporta e o governo francês confirma que o presidente Sarkozi não foi informado da ação militar para libertar Ingrid Betancourt e seus companheiros de sequestro.
É óbvio que uma operação desta importância tem que ser mantida no maior segredo.Afinal, o presidente francês fez muito marketing mas não contribuiu em nada,nem diplomática nem militarmente, para o feliz desfecho .

Ingrid Betancourt

A iniciativa de tentar libertar Ingrid Betancourt foi uma decisão ousada do presidente Álvaro Uribe por que ,como toda operação de comandos militares ,poderia ter dado errado .Por falta de sorte ou algum imprevisto,os reféns poderiam ter morrido junto com os militares colombianos.Isto seria uma catástrofe ,em todos os aspectos.

Mas tendo felizmente dado certo, o resgate dos reféns mostra que as Farcs continuam em sua marcha batida ladeira abaixo.Perderam agora seu ás de trunfo, que era Ingrid, três de seus mais altos dirigentes,inclusive o chefe supremo Marulanda, a iniciativa militar e o apoio político ( e financeiro ?) de Hugo Chavez.Será o fim deste movimento que há quarenta anos atormenta a Colômbia? Creio que ainda não , mas seguramente é o começo do fim.

O preço do petróleo não vai baixar

Na sexta feira passada, a Agência Internacional de Energia publicou um de seus mais dramáticos alertas ao dizer que serão necessários investimentos da ordem de US$ 45 trilhões no próximo meio-século para evitar déficits energéticos que inviabilizem o crescimento econômico mundial.
O cálculo se baseia num estudo anterior que previa o crescimento da demanda mundial dos atuais 85 milhões para 115 de barris por dia nas próximas décadas, principalmente em virtude do aumento do consumo nos países emergentes.Ora, não há atualmente perspectiva alguma de que os 30 milhões de BPD -o que representa três vezes a produção saudita- possam ser trazidos ao mercado.
Uma das principais consequências desta análise é temos o petróleo a 145 dólares por barril, já que o mercado antecipa e “precifica” o futuro.

O México enfrenta o tráfico

O Senado americano aprovou na semana passada a chamada Iniciativa de Mérida, que é um plano de três anos para financiar o combate ao tráfico de drogas no México ,América Central e Caribe.O projeto foi objeto de longas negociações pois o governo mexicano rejeitou diversos aspectos que poderiam ser caracterizados como restrições à soberania nacional, inclusive alguns referentes à proteção de direitos humanos.
Agora que a guerra contra o tráfico explodiu ,o governo Calderón resolveu lançar mão todos os seus recursos, inclusive do uso das Forças Armadas e ,em especial ,da ajuda financeira e material dos Estados Unidos.É o caminho do Plan Colombia.

Criatividade

Em sua infinita generosidade, o coronel Chavez agora patrocina uma igreja que apóia seus ideais socialistas.Um dos bispos mais destacados da Igreja Católica afirmou que o governo financia o projeto.Como, desde 1999, o coronel vem terçando espadas com a Igreja , é bem provável que lhe tenha ocorrido apoiar materialmente uma dissidência para fustigar os bispos.